sexta-feira, 24 de maio de 2013

XIII

IV

Aos poetas desta terra

CANTAI as doces cores deste país aquoso
em que abala o tempo em ondas de saudade,
cantai os verdes campos, as várzeas sensitivas,
os horizontes calmos de azul imensidade.

Cantai o eco místico dos vales florescidos
entre altos carvalhos de centenário alento,
olhai cada regato sob as pôlas das árvores,
sob a lua profunda onde sussurra o vento.

Admirai as montanhas de graníticas abas,
os cumes coroados de um brilho cintilante,
cada ria distante, cada eco nos bosques,
cada nova palavra num corpo de diamante.

Procurai esta terra nas mãos dos mais humildes,
nos campos sempre abertos, nos mares trabalhados,
conservai cada árvore, cada ponte ou caminho,
cada erva molhada nos lares sempre amados.

Assim não morrerá o eco deste verso,
porque a nossa memória é um antigo destino,
uma palavra amável, uma cantiga oculta,
ou um riso de prata sob um mar cristalino.

Brea, Ângelo O país dos nevoeiros Culheredo, A Corunha: Espiral Maior 2005 p. 20


Ângelo Brea (Santiago de Compostela, 1968)

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