domingo, 2 de junho de 2013

XVIII

I

Não contemplas como som destinadas as dálias
a púcaros tão tristes
como se difundem
no teu idioma frio
os matizes mais intensos da memória
nesta casa só
o amanhecer opaco dos dias
não contemplas
a extremidade do silêncio
onde a tua boca
não recebe mais que sombra
e igual que sombra
o peso de toda essa memória
recai na tua alma
como um sopro estranho
sobre a ménsula das horas
não contemplas
como se adentram as tardes
como uma pulsação precisa
nesta casa só
onde ocupas um âmbito de signos
o teu lugar de frio
e o tempo flui entre as cousas
nessa queda das cousas
que suspeitas no teu coração
não contemplas, enfim
o passado
esse território da tua brancura inexacta
o passado, as suas dálias
as suas dálias destinando-se
a púcaros tão tristes
não contemplas?

Penela, Carlos As linhages do frio A Corunha; Espiral Maior 1998 p. 35-36

Carolos Penela (Vigo, 1975)

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